
Quando eu morrer vais lembrar-me? Vais pensar em mim, vais guarda-me em ti, e vais lamentar o que não vivemos? Eu vou.
És o meu amor doente. Ouço-te do interior da minha voz, brincas nas nuvens coloridas da minha alma, praguejas a minha felicidade. Em ti, tudo aquilo que não vou sendo, tudo aquilo além do que vou sendo. O teu toque: que me devora os ossos, me corrompe a carne e me estala a pele.
Quero-te no meu sono.
Porque te escolho, neste sussurro sem retorno?
Eu sei, foi sem querer. Atraíste-me para o campo magnético do teu corpo, afundaste-te com desejo no meu. Ainda tenho o cheiro do teu suor, o calor da tua mão humedecida. Deixa-me morrer dentro de ti, consegues ouvir-me? Em que palavra a minha voz se partiu dentro de ti? Eu oiço-te, oiço a música das tuas lágrimas imateriais. Eu sinto-te.
Assassino incompetente, não és capaz de furar a espessura da espera e correr para mim. Porque não vens? Porque não matas este amor de vez? Mas fá-lo com garra, com raiva, não nos partas com dolência nem com mansidão, porque nós não somos assim.
De qualquer maneira, vem. Vem e vem depressa, ferozmente, loucamente, que assim é que se faz. E não chegues amanhã, amanhã é amanhã, e no amanhã a gente morre. E depois, como era? Não era. E tem de ser. Não tem?