quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Corrente Do Universo



Já há muito tempo que alguém me colou ao chão para me impedir de voar. Desde esse dia, as minhas asas foram destruídas e eu deixei de sonhar. A realidade invadiu a minha Alma destruindo o meu passado, quebrando o meu presente e modificando para sempre o meu futuro.
Desde esse dia, a minha Alma dividiu-se em duas...
Durante o dia sou a pessoa que o mundo quer que eu seja, sem nenhuma possibilidade de fugir à realidade.
De noite, quando entro no mundo dos sonhos, as minhas asas quebram as correntes que as aprisionam e voltam crescer. Nesse momento, a liberdade é total e eu posso viajar pelo Universo sem que ninguém me impeça.
Foi numa dessas viagens que eu te conheci. Possuías um brilho intenso no olhar e um sorriso que me iluminava na escuridão.
A partir desse dia aprendi a ser livre e única no mundo mas prometi guardar segredo até ao dia em que me sentisse segura e protegida de todo o mal que sinto à nossa volta.
Hoje quero ser feliz... percorrer todos os caminhos do Universo na tua companhia.
E agora eu sei que estamos ligados pela corrente mais forte do mundo, aquele que alimenta a nossa existência: o Amor!

procura o amor...


"O amor é sempre novo. Não importa que amemos uma, duas, dez vezes na vida, estamos sempre diante de uma situação que não conhecemos. O amor pode levar-nos ao Inferno ou ao Paraíso mas leva-nos sempre a algum lugar. É preciso aceitá-lo porque ele é o alimento da nossa existência. Se nos recusarmos, morremos de fome, enquanto vimos os ramos carregados da árvore da Vida, sem coragem para estender a mão e colher os frutos.
É preciso procurar o amor onde ele estiver, mesmo que isso signifique horas, dias, semanas de decepção e tristeza. Porque no preciso momento em que partimos em busca do amor, também ele parte ao nosso encontro. E salva-nos!"

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

emocionalmente instável...



Aparentemente, Ela era uma miúda como as outras.
Vivia da rotina do dia-a-dia, sem grandes novidades que agitassem os seus dias. Tinha amigos como qualquer outra pessoa e a amizade assumia um papel importante na sua vida. Não tinha uma grande proximidade com a família mas era uma família estável.
Mas, aos poucos, tudo foi desmoronando.
Os pais discutiam muito, os amigos foram-se afastando e a tal pessoa, que tanto ansiava encontrar, tardava em aparecer. Tudo parecia correr mal.
Tentava esconder os seus sentimentos para que ninguém a magoasse mais, parecia sempre tão difícil saber escolher a pessoa certa.
Às vezes, sentia-se triste e só mas nunca o admitiu. Escondia tudo com um sorriso ou com um momento descontraido.
Um dia, Ela terá alguém mas nunca irá entregar-se totalmente com medo da desilusão.
Mas existe a esperança de que esse alguém a compreenda e a ame de tal forma que não irá desistir até encontrar a sua essência... até que sejam um só!
Ela é emocionalmente instável mas até Ela encontrará a Felicidade porque ela existe para todos nós!
Ela é como nós...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

dar para receber... ( ou simplesmente dar?)


Sempre perguntei a mim mesma quais seriam os sinais que me inspiram alguma confiança ou simpatia nas pessoas...
Ora, depois de muito pensar sem dúvida que uma delas é o sorriso. Gosto dos sorrisos sinceros das pessoas à minha volta e, acima de tudo, gosto que me façam sorrir.
Sou daquelas pessoas que foge de ambientes pesados e austeros, não gosto de discussões e de confusões mas sei que isso é inevitável de vez em quando. Nessas alturas, adorava ter a capacidade de superar as coisas rapidamente mas não consigo... sou daquelas pessoas que precisa repousar a alma para estar pronta para outra "batalha".
Não sei bem como explicar mas...
um pequeno problema tem a capacidade de me levar até à exaustão mas uma grande alegria ou felicidade nunca é demais, poder ser intensa mas eu nunca me canso e nunca me leva à exaustão... eu quero sempre mais e mais.
É por isso que, algumas pessoas, me consideram uma pessoa exigente principalmente no que toca às relações de amor e amizade. Acreditem que não faço por mal mas, como eu faço sempre de tudo e dou tudo de mim por essa pessoa apenas espero uma pequena retribuição de afecto. Se tal não acontecer não existem afectos e gestos de carinho para mim e eu fico vazia de emoções.
É errado dizermos a alguém: "Não preciso de nada!" quando na verdade precisamos sempre de alguma coisa.
Eu preciso...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Procurei-Te


Procurei-te como quem procura a sua imagem no espelho.
Procurei-te como peixe que procura água. Procurei-te fogo. Procurei-te cura.
Procurei-te Perdição.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

será que é tudo a fingir?


Não gosto daquelas pessoas que fingem que são românticas e sensíveis e depois nunca o são na realidade. Os sentimentos e as pessoas não são brinquedos, não podemos brincar às pessoas sensíveis quando nos apetece e depois acordar no dia seguinte e achar que a brincadeira acabou porque já cansa.
Toda a gente fala do dia dos namorados como um dia inútil e eu concordo mas quantas pessoas precisam ser recordadas que é necessário ter gestos de carinho para com a pessoa que amamos? Vamos deixar de ser hipócritas e fingir que amamos só porque nos apetece, vamos deixar de estar obcecados por pessoas que não nos merecem, vamos libertar o nosso coração para sentimentos saudáveis.
O cérebro é bom para o trabalho e para os estudos mas fica por aí, não pode interferir com a nossa personalidade, com os nossos sentimentos (principalmente quando é para prejudicar!).
Eu estou do lado da Verdade, do Amor, da Amizade, dos verdadeiros sentimentos e não daqueles que, todos os dias, fingem ser sensíveis e verdadeiros!
Às vezes pergunto-me, será que é tudo a fingir? Será que já não existe nada de verdadeiro à minha volta? Eu quero acreditar que sim mas a vida oferece-nos tantas decepções e tão pouca coisa em que acreditar...
É cada vez mais difícil...

Life sucks, doesn't it?

É mesmo. E os poucos momentos de felicidade só servem pra nos dar a ilusão do contrário. Admiro, todavia, a ingenuidade (talvez hipocrisia, no fundo) de algumas pessoas. Conseguem ainda pintar de cor-de-rosa a vida e ver nela muitas possibilidades; a maldade nos outros, dizem elas, é sem intenção ou então é responsabilidade do ambiente social em que um indivíduo se move. Pois sim... O Pai Natal também existe e o Coelho da Páscoa chama-se Martim. Anda meio mundo a enganar outro meio, é o que é. Alguns, para além de enganados, chegam mesmo a ser fodidos e nem se importam. Lá há justiça neste modo de sobrevivência e existência a que chamamos vida... Os bons são compensados? Os maus castigados? Não me parece. Duvido mesmo da validade de tais determinativos nos dias que correm. Pensando bem, ninguém é perfeito, já vocês o dirão. E é tudo muito relativo, não é verdade? Pois claro... Esta é a minha opinião. Só e somente.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

É o cu do Mundo a funcionar.

Hoje vive-se o Dia dos Namorados. Muitos o hão-de viver, aliás. Eu não. Não cabe na cabeça de ninguém comemorar-se tal data, muito menos enfatizando-a com prendas e seus aliados. Se for preciso, no outro dia já a moça está a levar nos cornos do dito amado. Ou vice-versa. Sim, que isto hoje em dia elas gostam de vestir as calças... Mas o que ainda mais me irrita nisto, é por exemplo aquele caso que reportaram no telejornal relativamente à cidade de Bruxelas, onde as luzes vermelhas dos semáforos têm a forma de coração. Valha-nos qualquer santa maluca!!! Já estou como a minha amiga Vidigueira: aproxima-se um carro do belo semáforo, com o ainda mais belo do coração denotado e diz a menina para o menino (em neerlandês ou francês, claro) - 'Olha, amor, que coração tão lindo...' -; e toma lá bolota!, quando o menino de tão encantado que ficou olhando para tal símbolo do gordinho Valentim vai embater na traseira do veículo que está à sua frente. É o cu do Mundo a funcionar, de facto. Quando se pensa que a merda é sempre igual, há-de sempre haver algo que nos faça perceber o contrário. As relações já não são o que são. São cada vez mais ralações, cheias de sentimentos importunados. É suposto elas nos ajudarem no bom sentido, com direito aos seus devidos atritos, como é óbvio. O que não é suposto é serem a confusão que são hoje em dia, a mistura desordenada de valores que as caracteriza cada vez mais. Felizmente vão havendo excepções. Felizmente... Mas poucas.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Príncipe Russo

Era um homem alto, loiro, com uns traços daquilo que as novelas romanescas chamam um príncipe russo. Católico, metódico, atlético. Educado numa grande universidade inglesa, um intelectual convertido em professor universitário. Não gostava muito de falar excepto de temas que o interessassem. Tinha horror à conversa mole e às grandes palavras, porque achava que quem fala muito faz pouco e que um cavalheiro nunca fala daquilo que faz. Apreciava o silêncio e o voo dos pássaros, o vaivém das marés, as colinas negras de Gales ou a desabrida charneca escocesa. Gostava de fazer vela à chuva e de caminhar no meio do nevoeiro. Achava o Mar do Norte um mar pintado por Deus. Escalava, esquiava, e viajava de comboio, não por ter medo de aviões, porque era a única maneira de viajar. Gostava de Berlim e Paris e nunca punha os pés em Londres excepto para ver o teatro. Uma vez fomos ver um Rei Lear no Royal Court, com um filho dele da minha idade, e ficámos a discutir apaixonadamente se aquela era a pior (opinião dele) ou a melhor (opinião minha) peça de Shakespeare. Não era um problema de qualidade da peça, simplesmente de gosto, concluímos cansados por volta das três da manhã num restaurante italiano. Por essa altura já ele estava doente e não o sabíamos. Ele sabia. Quando eu o abraçara ele afastara a cara e o corpo num movimento discreto de recuo, quase imperceptível, e parecia querer evitar o afecto. Nunca acontecera antes. Era casado e tinha uma família convencional, com férias no Sul e fins-de-semana ao pé do mar. O casamento assentava numa amizade e na partilha da família, da casa, e dos gostos e hábitos. Ele ia muito a Berlim, a sua capital favorita. Um dia, soube-se que o grande amigo dele, que nunca casara, estava a morrer. Ele visitava-o e nada se dizia sobre a doença. Outro dia, mais tarde, soube-se que ele também estava doente. Ele contou primeiro ao filho, único rapaz, e a seguir começou a chorar, o que nunca fizera antes. De arrependimento por nunca lhe ter dito que era homossexual, tinha sido sempre, desde o colégio. Casara com a mãe por amor mas era homossexual. O filho olhou para ele horrorizado, como se visse um estranho e como se a sua vida tivesse desabado. As irmãs sabiam, ele nunca suspeitara. O pai era alguém que ele respeitava e amava, não podia ser de repente um mentiroso. A família toda reagiu com estranheza e vergonha, como se ele tivesse lepra, e depois procurou consolo num padre, que sempre os acompanhara, e na oração a um Deus desconhecido. A mulher afastou-se, embora a noticia não fosse novidade inteira. Só a mãe o acolheu, já muito velha, com toda a naturalidade. Depois desta confissão durou meia dúzia de anos. No princípio isolou-se, sem sair da cidade e do emprego onde gostava de estar. Alugou um apartamento e vivia sozinho, dando aulas, escrevendo, indo ao hospital com frequência. Recusou acompanhamento psicológico e tomar medicamentos que lhe prolongassem a vida, porque achava que queria morrer. Uma expiação pelo desgosto que causara. Enquanto esteve bem ia para a Córsega acampar e caminhar na Primavera e para a Roménia esquiar no Inverno. Nunca mais pusera os pés na casa da família nem na casa de fim-de-semana. Eu visitava-o e recusava esta visão das coisas, achava que ele tinha de se perdoar a si mesmo, antes de ser perdoado. E que devia tomar os remédios. Comecei a vê-lo definhar, a cara pálida, a barba que entretanto deixara crescer para disfarçar. Tinha infecções graves, por essa altura. Uma tarde de verão fomos velejar no lago e quando um raio de sol bateu na água verde, dei por ele a deixar cair as lágrimas em silêncio, com pena de se despedir. Havia tantas coisas que ele gostava de fazer, de ver, de sentir. Tentei não chorar e senti a nossa absurda mortalidade, a dele a minha, a marcha lenta da morte na nossa direcção, a sombra a tapar o sol. Naquela noite, não consegui que discutíssemos literatura ao jantar, as conversas de tirar teimas, argumentações de senatorial insensatez. Acabámos a discutir as vantagens do «porridge» sobre o «muesli». Toquei-lhe nas mãos transparentes, com veias azuis. Veias picadas nos braços, que ele escondia. Ele mal comia, debicava, tão diferente dos tempos do Rei Lear e do restaurante Italiano, quando devorava um prato de pasta e um ossobuco. Sorríamos sem graça. Na minha cabeça continuava a ver a faca do sol a cortar a pele da água, um golpe de luz, iluminando a cabeça dele, os cabelos embranquecidos, a barba de cinza, os olhos pousados na eternidade. A contemplação da eternidade que não nos pertence. Nunca mais voltarei a este lago, pensei. Morreu não muito tempo depois. Magro, paralisado, desfigurado. A família aproximou-se nos últimos anos, sobretudo o filho, que entendeu que o pai era o pai, e amado como tal, o que nada tinha a ver com sexualidade ou doença. Perder o pai era a única coisa suportável, por isso dava-lhe de comer, empurrava a cadeira de rodas, tratava-o, dava-lhe remédios que lhe aliviavam o sofrimento. Ele queria terminar depressa. Regressou a casa, fechou o apartamento alugado, mas a morada verdadeira era o hospital. Recusava engolir fosse o que fosse e quase achávamos que ele se matava à fome, antes que a doença o matasse. Nunca acedeu a tomar os antivirais. O padre estava no quarto quando ele partiu. Os filhos. A mãe morrera antes dele, como se preferisse assim, obedecendo à lei da vida que diz que os filhos não podem morrer antes dos pais. No enterro ninguém chorou, um desgosto digno como ele merecia. As cinzas deviam ter sido atiradas ao Mar do Norte. Ou dispersas nas ervas das colinas corsas, que ele amava por causa da liberdade e do vento. Não chegou a conhecer os netos e está numa fotografia tal qual como está nos corações dos que gostavam dele. Com um impermeável amarelo, a cara de príncipe russo, o cabelo despenteado, empoleirado num barco. Imortal. E quando alguém perguntar como ele morreu – como morreu o avô – dir-se-á a verdade. Morreu com sida, uma doença que continua a matar milhões de pessoas de todas as caras, cores, sexos gostos. Morreu no tempo antigo em que não sabíamos que tantos iam morrer. Morreu cedo de mais.

Clara Ferreira Alves